Creio no Espírito Santo
O ESPÍRITO SANTO
- na SS. Trindade,
- na obra redentora de Jesus Cristo,
- na Igreja e na santidade cotidiana de cada cristão
(sábado, 14 de setembro de 2013 - Edifício João Paulo II)
+ Karl Josef Romer
1) UM OLHAR PARA DENTRO DA SS. TRINDADE
No AT e alguma vez no NT, onde se fala no “Espírito”, não é tão claro se o “espírito” é o poder abstrato de Deus (impessoal), ou se realmente se trata de uma Pessoa distinta. Mas no NT encontramos explicitamente expressa a personalidade própria do Espírito Santo.
Jo 14,26: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”.
Jo 16,13s: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará...”.
1.1 Na Bíblia: A SS. Trindade é o mistério dos mistérios. Nas passagens mais solenes, a Bíblia afirma simultaneamente a identidade (oposta à outra Pessoa) (i. é a diversidade) de cada Pessoa Divina e ao mesmo tempo a unidade misteriosa delas em Deus.
Jesus se distingue do Pai: Na hora dramática da Paixão ele clama: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice!” (Lc 22,42). “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). “Minha comida é fazer a vontade do Pai” (Jo 4,34). “Não posso fazer nada por mim mesmo. Não busco a minha vontade, mas a do Pai” (Jo 5,30). “Não desci do céu para fazer a minha vontade, mas a do Pai” (Jo 6,38s).
Mas Jesus revela a essencial identidade entre as Pessoas divinas, opostas entre Si, abrindo essa identidade na diversidade das relações (oposições) entre Elas: “Filipe, tanto tempo estou convosco e não me conheceis! Quem me vê, vê o Pai. Não crês que estou no Pai, e o Pai em mim?!” (Jo 14,9s).
1.2 A fé procura interpretar a mensagem de Jesus
O problema condensa-se primeiramente na diversidade das Pessoas e na simultânea unidade delas. Jo 10,30: “O Pai e eu somos um” (lat.: unum – gr.: hen). O tema sacudia a Igreja pela oposição (e preocupante popularidade) do arianismo. Areios, nato cerca de 260 na Líbia, aluno de Luciano (Lukian) em Antioquia. O Bispo Achillas de Alexandria o ordena sacerdote. Sua doutrina é o mais puro subordinacianismo. Para Arius, Jesus nem é Deus (é Logos criado), nem é homem (em lugar da alma está o logos criado, essencialmente diferente da alma humana). Após uma condenação por um sínodo de 100 Bispos, Areios foge para Eusébio de Cesareia e depois para Eusébio e Nicomédia.
A vitória do Concílio de Nicéia (325): Em forma de Dogma solene, condena o arianismo e define a fé que desde sempre foi confessada e pela qual exércitos de mártires[1] tinham dado sua vida. Areios morre em 336. Mas sua doutrina exige ainda longa luta do Magistério.
O Credo (Dogma) de Nicéia: “Cremos no único Senhor nosso Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai; isto é da substância (ek tes ousias) do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro; nascido (natum) não criado (non factum), de uma substância com o Pai (homooúsios to(i) Patrì), por Ele tudo foi feito, no céu e na terra. E (cremos) no Espírito Santo” (DH 125; FIC 272).
O Dogma do Concílio de Constantinopla (381): confirmará e reforçará essa doutrina, acrescentando: “E (cremos) no Espírito Santo, o Senhor e Vivificador, que procede do Pai (os latinos: e do Filho[2]), e que é adorado e glorificado simultaneamente com o Pai e o Filho” (DH 150).
1.3 A inteligência humana, iluminada pela fé, penetra no mistério
Santo Agostinho, seguido posteriormente pelos grandes teólogos, explica tudo com uma profunda analogia com o espírito humano.
O espírito humano conhece-se a si mesmo, numa crescente auto-consciência. Este conhecimento é relativo, pode mudar, pode crescer. Em Deus, Espírito Puro, o Divino Intelecto se conhece a si mesmo num ato absoluto, eterno e exaustivo. Este conceito que Deus tem de si mesmo é pleno, imutável, é eterno. É tão divino como o próprio Deus é. Este pensamento de Deus sobre Si mesmo é Pessoa eterna, imutável, como o Pai. Deus conhece-se plena e exaustivamente. Eternamente surge no PAI o feliz autoconhecimento, o VERBO ETERNO.
[No intelecto, o conhecimento é um nascer, um “conceito” (= concebido). O concebido nasce, é pronunciado pelo Intelecto eterno do Pai. Este pronunciado é o Verbo de Deus. Absolutamente igual ao Pai. É diferente do Pai somente pela oposição da origem (relationis oppositio).]
A Terceira Pessoa, o Espírito de Amor, é a necessária felicidade de Deus em si mesmo: O Pai se vê divinamente amado no Filho; o Filho se vê divinamente amado no Pai. A mesma divina felicidade caracteriza o Filho que eternamente surge no Pai. Este amor mútuo, esta felicidade comum do Pai com o Filho não é um ato passageiro (como em nós seria) mas é tão eterno como o Pai é, como o Filho é. É o ETERNO DIVINO AMOR que vive entre os Dois. Este amor não pode ser menor do que o próprio Deus. É Pessoa divina. Este amor não “nasce” como o Verbo nasce no Intelecto. Este amor é conseqüência intrínseca necessária do conhecimento e do conhecido. Esta felicidade divina entre Pai e Filho é soprada em forma de Amor. Enquanto o Verbo procede pelo modo do intelecto, o Espírito procede pelo modo da vontade, da felicidade do amor. O conhecimento (e o conhecido) é princípio causativo do amor. Por isso, o amor é a Terceira Pessoa, diferente da Segunda. A escolástica (cf. LThK V,111, final) : “o Amor recíproco do Pai com o Filho é primariamente o amor intrínseco (auto-amor) da Natureza divina, e o Espírito Santo é intercâmbio entre Pai e Filho deste amor essencial em forma de sopro de Amor”.
Lutero, Calvin e, por exemplo, K. Barth, não se distanciam muito de Agostinho (o Espírito é a terceira Pessoa); mas protestantes modernos tendem a reduzir o Espírito a uma força do Cristo glorioso.
“Deus é Amor” (1Jo 4,16). Deus vive necessariamente em reciprocidade de comunhão, que é sua felicidade infinita. Esta divina felicidade é tão absoluta como o Pai e o Filho são absolutos. É a Terceira Pessoa, o Amor. – A Pessoa Divina que ama a Outra Pessoa, dá a ela todo o seu ser. Está assim entre as Pessoas do PAI e do FILHO o ESPÍRITO, soprado como Amor recíproco.
2 O ESPÍRITO NA OBRA REDENTORA DO VERBO ENCARNADO
Não só uma qualidade genérica, abstrata da essência divina, mas a Pessoa trinitária do Espírito é claramente ensinada na Sagrada Escritura. Assim, o Pai que envia o Filho na encarnação, envia-o no sopro, na luz, no fogo do Eterno Espírito de Amor. É grandiosa a presença operativa do Espírito na vida e na obra de Jesus, desde a encarnação até a morte e ressurreição, incluindo a fundação da Igreja.
2.1 A encarnação é, após a SS. Trindade, o mais fundamental mistério: a Segunda Pessoa Divina se faz homem. Com santa admiração diz a Bíblia: “Foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). O inefável da encarnação é atribuído ao (Poder divino e) ao Espírito santo: “O Espírito Santo virá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Lc 1,35).
Como na encarnação, assim, o Espírito Santo estará poderosamente presente nos acontecimentos solenes da vida de Jesus:
2.2 Na entrada de Jesus na vida pública, temos a plena manifestação do Espírito. “Quando Jesus subiu da água ( vanabai,nwn ek tou/ ]udatoj), ele viu os céus abertos e descer o Espírito sobre Ele (to. Pneu/ma katabai/non)” (Mc 1,10). A vinda do Espírito sobre Ele torna manifesto que sua autoridade e identidade messiânica não vem nem de João, nem da água, mas vem unicamente do céu.
2.3 O batismo de João é de água, o de Jesus é no Espírito Santo (Mc 1,8), i,. é: acolhe o batizando na íntima comunhão trinitária. Este mesmo Espírito (to. Pneuma) o impele ao deserto (Mc 1,12).
2.4 E no momento mais sublime de sua vida, na hora de seu aniquilamento (cf. Fl 2,7), ele oferece-se com nenhuma dádiva sacrifical, a não ser “com seu sangue” e “pelo Espírito eterno” ( dia. Pneu,matoj vaiwni,ou) (Hb 9,14).
Albert Vanhoye, Gesù Cristo il Mediatore nella lettera agli ebrei, p. 179, diz: “No Salmo 49 (50),1 Deus pergunta ironicamente: Eu comerei a carne de touros? Beberei o sangue de cabritos? (cf. Amós 5,22). Contrapõe-se na carta aos Hebreus a divina resposta: “Jesus Cristo, por um Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus (por seu sangue) como vítima imaculada” (Hb 9,14).
Como a encarnação, que é dom supremo do Pai ao mundo, é operada pelo Espírito Santo (Lc 1,35), assim a suprema oblação de Jesus Cristo ao Pai acontece mediante o Espírito. Todo dom de Deus ao mundo acontece no Espírito, e todo dom do mundo redimido a Deus acontece neste mesmo Espírito (Hb 9,14).
2.5 E quando Ele envia a Igreja pelo mundo afora, Ele o faz com o dom do Divino Espírito: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Dizendo isso, soprou sobre eles (o sopro é imagem do Espírito) e lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes os pecados, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,21-22).
Podemos resumir:
a) Os mistérios da encarnação e da redentora oblação sacrifical de Jesus estão intimamente ligados à Pessoa do Espírito Santo, são operados pelo Espírito Santo, que é o Amor vivo de Deus. Neste Espírito acontece a assunção da natureza humana pelo Verbo eterno. Neste mesmo Espírito opera-se também a entrega do Amor do Verbo ao Pai no ato da oblação e auto-exinanição de Jesus na sua morte e paixão.
b) A vida humana de Jesus, substancialmente assumida pela Segunda Pessoa Divina, é total e absolutamente permeada pela força, pela luz, pela beleza do Espírito Santo. Sua natureza humana, já nesta terra, participa do divino diálogo do Verbo como Pai. O Verbo divino, que é o íntimo “Eu” do homem Jesus, oferece o Espírito de Amor ao Pai. Este Divino Espírito, que unge tudo o que é humano em Jesus, abrirá o caminho para os corações que devem receber a mensagem redentora de Cristo.
c) Este Divino Espírito, Jesus ressuscitado o sopra sobre os apóstolos, sobre toda a futura Igreja.
3) PELO ESPÍRITO, JESUS REALIZA A SANTIDADE da Igreja e de cada um
Já o profeta Joël tinha prometido para o ponto alto da história: “Depois disto, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo (sobe toda carne); vossos filhos e filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões” (Joel 3,1). E Isaias prediz o porvir ideal: “Até que sobre nós se derrame o Espírito do alto. Então o deserto se mudará em vergel, e o vergel tomará o aspecto de uma floresta” (Is 32,15; cf. cf. Is 44,3; Zac 12,10). Em At 2,17-18, Pedro declara cumprida a profecia de Joel 3,1-5.
“A Sagrada Escritura dá ao Espírito Santo, que é o Espírito do Pai e do Filho, de certa maneira a posição conclusiva, que completa e coroa toda a história salvífica” (Scheffczyk, in Leo Scheffczyk - A. Ziegenaus, Kathol. Dogmatik II, 334).
A íntima ligação do Espírito Santo com a santificação da Igreja e de cada um se nota na afirmação do Evangelho de João: “Ainda não fora dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7,39).
3.1 O ESPÍRITO SANTO É A ALMA DIVINA DA IGREJA
Já na primeira aparição, Jesus tinha soprado o divino Espírito sobre os apóstolos, para torná-los partícipes da celeste realidade da ressurreição (cf. Jo 20,21-22).
Jesus ressuscitado constituiu os apóstolos arautos seus do Evangelho “para o arrependimento e a remissão dos pecados em todas as nações, a começar por Jerusalém” (Lc 24,47). No momento de Sua definitiva retirada para junto do Pai, Ele define o início da história da Igreja sob a ação do divino Espírito: “Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto” (|Lc 24,49).
“É através da Tradição Apostólica, conservada na Igreja com a assistência do Espírito Santo, que temos contacto vivo com a memória fundadora [“Abrange tudo quanto contribui pra a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé...” DV 8]” (LF 40). – O Espírito realiza a “memória” sacramental, tornando presente em cada liturgia o ‘Hoje’ de Jesus Cristo.
O terceiro Cânon (Oração eucarística III) reza no início: “Deus do universo..., por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, e pela força do Espírito Santo, dais vida e santidade a todas as coisas, e não cessais de reunir o vosso povo, para que vos ofereça em toda parte, do nascer ao pôr-do-sol, um sacrifício perfeito”. O texto original (latino) diz mais exatamente: “por Jesus Cristo, no poder operante do Espírito Santo”[3].
3.2 O ESPÍRITO NA VIDA DE CADA CRISTÃO
O que, pelo Espírito santo acontece na Igreja, torna-se ventura individual em cada cristão. Assim continua a mesma terceira Oração eucarística, na segunda prece após a Consagração: “concedei que, alimentando-nos com o Corpo e Sangue de vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um só corpo e um só espírito[4]”.
1º Somos transformados: Nenhuma criatura, de por si, é capaz de receber dentro de si o Deus vivo e santo. Por isso diz a nossa fé que o Espírito nos transforma qualitativamente, adaptando-nos a Deus. A encíclica do Papa Francisco (iniciada por Bento XVI) LUMEN FIDEI o diz de modo claro: “O Espírito transforma-nos, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas da esperança para o percorrermos com alegria” (LF 7,2). O mesmo pensamento em LF 20: “... o Amor que nos precede e transforma a partir de dentro, que age em nós e conosco”.
A presença de qualquer Pessoa Divina em nós pressupõe em nós esta real transformação qualitativa, para podermos recebê-LA. A presença do Pai e do Filho em nós inclui-nos no eterno amor trinitário: o Espírito Santo cria em nós o ambiente divino para recebermos o Pai e o Filho. E este Espírito é o Amor entre os Dois, e nos inclui consigo na SS. Trindade.
Pela Paixão, Ressurreição e Ascensão (Glorificação) de Jesus começa também para a Igreja um tempo totalmente novo. É o Espírito que opera em nós a capacitação de recebermos a presença divina.
Como o Credo da Igreja tem estrutura trinitária, assim a realidade da graça e da santidade tem estrutura trinitária. Escreve o Papa na citada Encíclica: “O Pai e o Filho unem-Se no Espírito de amor”. Confessando a fé, somos “implicados na verdade que se confessa; (o crente) não pode pronunciar, com verdade, as palavras do Credo, sem ser por isso mesmo transformado, sem mergulhar na história de amor que o abraça, que dilata o seu ser, tornando-o parte de uma grande comunhão” (LF 45!). Cada cristão é sujeito transformado. Mas o grande sujeito do Credo é a Igreja (ibd.). Recebemos o batismo “para a transformação da vida inteira em Cristo” (LF 42).
“O Filho de Deus... habita nos nossos corações por meio do Espírito Santo” (LF 20). Se Cristo vive em nós (cf. Gl 2,20), isto é devido a uma ação transformadora e ativa do Espírito Santo em nossa alma. Diz a Encíclica no número 21: “É aqui que se situa a ação própria do Espírito Santo: o cristão pode ter os olhos de Jesus, os seus sentimentos, a sua predisposição filial, porque é feito participante do seu Amor, que é o Espírito; é neste Amor que se recebe, de algum modo, a visão própria de Jesus. Fora desta conformação no Amor, fora da presença do Espírito que o infunde (o Amor) nos nossos corações (cf. Rm 5,5), é impossível confessar Jesus como Senhor (cf. 1Cor 12,3)” (LF 21).
2º A vida trinitária vive em nós: A vinda do Espírito (ou do Verbo) a nós é a extensão da função trinitária dentro de Deus.
Um princípio fundamental de nossa fé a respeito da vida cristã é sabiamente formulado por São Tomás: “A missão (do Espírito) ao mundo inclui-se na missão eterna dentro da SS. Trindade; acrescenta a ela um efeito temporal” (S. th. I q 43a 2 e 3).
A vida eterna, o céu, não se define por uma proximidade local a Deus, mas por uma real participação na vida interna (trinitária) de Deus. – Já neste mundo nossa filiação divina é realidade. “Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos. Se o mundo não nos conhece, é porque não o conheceu. Caríssimos, desde já somos filhos de Deus... Seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3,1-2).
Esta vida eterna já começou realmente dentro de nossa vida. É grandiosa a promessa de Cristo: “... compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,20). “Permanecei em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também vos, se não permanecerdes em mim” (Jo 15,4). “Todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós” (Jo 17,21). Esta promessa culmina na habitação em nós da própria SS. Trindade: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23).
O Espírito vivifica a Igreja, dando-lhe (a cada um) os frutos do Espírito Santo[5] (Gl 5,22-23).
O Espírito é o dom de Amor do Pai ao Filho, e é o dom do Pai a nós (cf. Lc 24,49; At 1,4, cf. Scheffczyk II,336-340);
O Espírito é dom de Amor do Filho ao Pai: “o Pai o enviará em meu nome” (Jo14,26); “se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se eu for, enviá-lo-ei a vós” (Jo16,7). “Ele (o Espírito) não falará de si mesmo.. Me glorificará, receberá do que é meu” (Jo16,13-14).
O Espírito, Amor eterno, autoentrega-se a nós. Como Ele é o dom entre o Pai e o Filho, assim, para fora da SS. Trindade, Ele prolonga sua função trinitária e inclui nela o amor a nós.
3º Por nós, o Espírito infunde-se ao mundo e transforma-o. Ele, o Espírito é em nós o dinamismo da santidade, no sofrimento, no amor e no serviço aos outros.
“Um só é o Espírito”, mas Ele se manifesta nas mais ricas formas que nos são distribuídas. “A um o Espírito dá a mensagem de sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o único e mesmo Espírito, a outro o mesmo Espírito dá a fé, o poder de milagres, a profecia, o discernimento dos espíritos... (11) Mas é o único e mesmo Espírito que isso tudo realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz” (1Cor 12,8-11). Mas este Espírito do Deus Trino é a força unificadora da Igreja: “Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos” (1Cor 12,7). Em 2Cor 6,6 (2-10) o apóstolo mostra a abundante riqueza dos dons do Espírito em seu apostolado, em prol da Igreja.
O Espírito opera em nós a fecundidade da Caridade: “A caridade é paciente..., não invejosa, não se ostenta... Nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7; cf. 13,13). – A plenitude da redenção, no Espírito Santo, expressa-se eloqüentemente:
1Cor 3,16: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós”.
1Cor 6,19: “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus?... e que, portanto, não pertenceis a vós mesmos? Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate; glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo”.
[1] O eminente historiador da Igreja, Hubert Jedin, Concílios Ecumênicos, Herder S. Paulo 1961, p. 14-15 diz: «Alguns bispos “traziam em seu corpo as marcas de nosso Senhor”, porque nas perseguições precedentes confessaram a sua fé com firmeza e perseverança, como o bispo Paulo de Neocesaréia... que trazia as duas mãos paralisadas, porque lhe haviam destruído os nervos com ferro em brasa, e o egípcio Pafnúcio, que na perseguição de Maximino perdera um dos olhos.»
[2] Sobre a história do “Filioque” veja a introdução ao n. 150 de DH. Os gregos dizem só: “Cremos no Espírito Santo que procede do Pai”. Mas talvez já em Constantinopla, onde os gregos diziam e escreviam “to. ek tou/ patro.j ekporeuo,menon”, os latinos explicitam mais: “qui ex Patre et Filio (Filioque) procedit”.
Os gregos, mais tarde, compeltam o “quem procedeu do Pai” por “quem procedeu do Pai pelo Filho”.
[3] Vere Sanctus es, Domine, et mérito de laudat omnis a te condita creatura, quia per Filium tuum, Dominum nostrum Iesum Christum, Spiritus Sancti operante virtute, vivificas et sanctíficas universa, et populum tibi congregare non désinis, ut a solis ortu usque ad occasum oblatio munda offeratur nomini tuo.
[4] “... concede, ut qui Corpore et Sanguine Filii tui reficimur, Spiritu eius Sancto repleti, unum corpus et unus spiritus inveniamur in Christo”.
[5] “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio (castidade)” (Gl 5,22s)