Escutar a palavra do Senhor
Maria, aos pés do Senhor, escutava a sua palavra
«No silêncio estará a vossa fortaleza» (cf Is 30, 15)... Conservar no Senhor a fortaleza, é estabelecer a unidade em todo o nosso ser por meio do silêncio interior, é recolher todas as nossas potências para ocupá-las unicamente no exercício do amor. É ter aquele olhar simples que permite à luz de Deus iluminar-nos (Mt 6, 22). Uma alma que discute com o seu, que se ocupa das suas sensibilidades, que segue pensamentos inúteis e se deixa arrastar por toda a espécie de desejos, esta alma dispersa as suas forças e não está totalmente orientada para Deus... Há nela, ainda, muito de humano. Há dissonâncias.
A alma que no seu reino interior conserva ainda alguma coisa própria para si, cujas potências não estão totalmente “encerradas” em Deus, não pode ser um perfeito «louvor de glória» (Ef 1, 14); não está em estado de cantar sem interrupção o «cântico novo», o grande cântico de que fala S. Paulo, porque não reina nela a unidade. Em lugar de poder seguir com simplicidade o seu canto de louvor através de tudo, vê-se forçada a reunir continuamente as cordas do seu instrumento dispersas aqui e além...
Como esta bela unidade interior é indispensável à alma que quer viver cá em baixo a vida dos bem aventurados, quer dizer, dos seres simples, dos espíritos puros! Parece-me que era a isto que o Mestre queria referir-se quando falava a Maria Madalena do «único necessário». Que bem o compreendeu aquela grande santa! Iluminada pela luz da fé, tinha reconhecido o seu Deus oculto sob o véu da humildade; e, no silêncio, quer dizer, na unidade das suas potências, ela escutava a palavra Ele lhe dirigia... Sim, ela já não sabia mais nada senão Ele.
Beata Isabel da Trindade (1880-1906), carmelita
Último retiro