Eucaristia e Vida Consagrada

24/09/2011 16:44

A Eucaristia e a vida Consagrada

 

Deus não usa só a linguagem humana, mas também os gestos, símbolos e costumes humanos para revelar o indizível de seus mistérios.

 

1) A pré-história das palavras e gestos eucarísticos

 

1.1 Na cultura antiga oriental: o exemplo de Assur Nirari e Mati’ilu

 

O rei da Assíria (Nínive), Assur Nirari (755-745), tinha seus vassalos, administradores regionais de seu Reino. Um deles, Mati’ilu, governando em Arpad, era muito poderoso e opôs-se ao Rei. Com grande dificuldade, este conseguiu quebrar o avanço daquele. Mati’ilu foi preso. Matá-lo não resolveria nada, porque a resistência já estava bastante difundida, e em Mati’ilu ele conseguia identificar o perigo. Enfrentou o prisioneiro, colocando-lhe a ponta da faca no pescoço, e exigiu dele que optasse entre a vida (entrando em uma aliança com o Rei) e a morte (no caso contrário). Mati’ilu aceitou.

O rei mandou matar um bode, colocando a cabeça do animal separada do corpo. Os dois mergulharam a mão no sangue, e o Rei pronunciou a fórmula dupla da aliança. ‘Este sangue é imolado aos deuses. E nós fazemos nossa aliança de paz. Se tu, Mati’ilu, jamais quebrares a aliança, não eu tomarei a vingança, mas os deuses aos quais oferecemos este sacrifício (de nossa aliança)’. O texto, gravado em pedra e conservado até hoje, diz literalmente: “Esta cabeça não é a cabeça do animal sacrificado, mas é a cabeça de Mati’ilu (Matu’ilus) como também é a cabeça de seus filhos no caso de uma infidelidade ao juramento feito. Como a cabeça foi arrancada do animal, assim será com a cabeça de Mati’ilu e de seus filhos....” Os dois devem ter bebido do sangue, comido da carne. Assim, por onde sempre Mati’ilu fosse, os deuses o identificariam e tomariam vingança, se ele quebrasse a aliança confirmada no sacrifício aos deuses. (No final são citados os nomes de diversos deuses.) (Cf. Pirot-Clamer, Êxodo, cap. 24 comentário).

 

 1.2 Deus faz aliança com Abrão (Gn 15,2-10.12-17)

 

Gn 15,2: a queixa de Abrão: estou sem filhos, sem herdeiro, no entanto, tu, ó Deus mo tinhas prometido.

 

Gn 15,4-5: Deus repete a promessa. “Ergue os olhos para o céu e conta as estrelas , se as podes contar. Assim será a tua posteridade”.

 

Gn 15,6: Abrão creu em Iahweh, e lhe foi tido em conta de justiça.

 

Gn 15,7-10: Para confirmar a promessa, Deus manda fazer o sacrifício: uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho (9). Abrão “partiu-os pelo meio e colocou cada metade em face da outra...;

 

Gn 15,12-16: Deus repete a fórmula da promessa: “Sabe com certeza, que teus descendentes serão estrangeiros numa terra que não será a deles...Mas eu julgarei e ... eles sairão com grandes bens.”

 

Gn 15,17: (as palavras da promessa e o gesto de Deus se unem, para o espanto (12) de Abrão. “Quando o sol se pôs e estenderam-se as trevas, eis que uma fogueira fumegante e uma tocha de fogo passaram entre os animais divididos”.

 

Gn 15,18: Naquele dia Iahweh estabeleceu uma aliança com Abrão ...

 

O incrível desta cena é: Deus usou não só palavras, mas também gesto humano. Ele, em forma da coluna de fogo, passa entre os animais divididos, como se ele tocasse no sangue imolado, como se ELE, o Deus imortal se comprometesse por sua vida de ficar fiel à sua promessa. Pode Deus garantir com sua vida? Abrão não pode suspeitar o que isto chegaria a significar na história de Deus com os homens.

(cf. Gn 31,44).

 

1.3 O ponto alto da antiga aliança: Ex 24,3-8

 

A preparação da aliança vem descrita em Ex 19,10-12.

 

Depois, Moisés escreveu as palavras que Deus tinha pronunciado (24,4) e realizou o sacrifício da Aliança: 12 touros imolados:

- v. 6: Tomou a metade do sangue e colocou-o em bacias, e espargiu a outra metade do sangue sobre o altar.

- v. 7: Tomou o livro da Aliança e o leu para o povo; e eles disseram: “Tudo o que Iahweh falou, nós o faremos e obedeceremos”.

- v. 8: Moisés tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse:

Este é o sangue da Aliança que Iahweh fez convosco”.

 

Estão em jogo muitos elementos: Sacrifício dos animais, palavra de Deus e do povo, gesto sacrifical (derrama o sangue sobre o altar) e gesto de íntima união entre Deus e o povo (o povo é aspergido pelo sangue oferecido a Deus).

 

 

2) Jesus institui o sacramento da Eucaristia na Ceia pascal

 

1Cor 11,23-26: “Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». (25) Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo:

«Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim». Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha. Eis porque todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor”.

Cf. Lc 22,14-20 e também Mt 26,26-29; Mc 14,22-25.

 

É o testamento de sua morte e de sua glória que Jesus instituiu com estas palavras e estes gestos.

 

3) Eucaristia e Vida Consagrada

 

3.1 O uso do sangue no Antigo Testamento, para selar uma ALIANÇA, só se interpreta definitivamente na morte de Jesus. A Eucaristia é a nova ALIANÇA, eterna, como o Cristo imolado e ressuscitado é eterno.

 

3.2 A consagração na Vida Religiosa é a radicalização do Batismo, que, segundo Rm 6,3-6, é um identificar-se com a morte e com a ressurreição de Cristo. Com este sangue da aliança somos assinalados pelo Batismo. E em cada eucaristia o celebramos com júbilo esponsal.

Na Consagração Religiosa, nos comprometemos conscientemente, em um amor supremo a Ele, com esta ordem divina: promessa, sacrifício de aliança, alimento comprometedor.

Eucaristia é o banquete nupcial do sacrifício-aliança. Os Religiosos proclamam este estado nupcial. A intimidade eucarística é-lhes própria por motivo especial (Consagração ao Esposo).

 

3.3 A nupcialidade da ceia eucarística

 

O Esposo da Igreja é Cristo:

Mc 2,19: “os convidados não podem jejuar, enquanto o Esposo está com eles”;

Jo 2,9-10: o responsável pelo vinho nas núpcias: o esposo da Igreja é Jesus.

Esta é a qualidade básica da Igreja como tal. – A Vida Consagrada, radicalizando o batismo, santidade da Igreja, torna visível, torna estandarte da Igreja toda, o que os consagrados vivem com generosa e vigorosa humildade.

 

Já o batismo (Rm 6,3-6) é o mergulho morte de Cristo adentro e um ressurgir com Ele (cf ibd. e Cl 2,12!). Na Eucaristia está presente o Ressuscitado com os sinais da morte; com Ele se celebra as núpcias de nossa alma redimida.

 

É necessário reaprender a ajoelhar-se diante do Cristo na Eucaristia. Quem tem dificuldade física de se ajoelhar pode-se prostrar na sua alma!