In memoriam D. Estêvão Bettencourt
No dia 14 de abril passado completaram-se 7 anos do falecimento de D. Estêvão Bettencourt, monge beneditino conhecido por sua dedicação à formação cristã. Na Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana foi celebrada a Santa Missa, que marcou também a iniciativa do povo de Deus de colher assinaturas para pedir a abertura do processo de beatificação deste insigne monge. Na ocasião, D. Karl Josef Romer pronunciou a homilia abaixo.
In memoriam Dom Estêvão Bettencourt OSB, 14 04 15
Entre as abençoadas qualidades com que Deus distinguiu a vida de dom Estêvão, sobressaem os dons do Espírito Santo: a Sabedoria, a Inteligência, o Conselho e a Fortaleza, a Ciência, a Piedade e o Temor de Deus (cf. Is 11,1-2).
Com palavras breves, quero esboçar umas linhas que caracterizam sua intimidade com Deus e sua abertura sem limites para com o mundo.
O homem de sabedoria e inteligência: Eu tive a sorte de participar com Dom Estêvão de um congresso teológico em um país da América Central. Num intervalo foi-nos oferecida a oportunidade de visitar uma fábrica, propriamente uma vidraçaria. Atrás de enormes Vidros, três homens, vidreiros, colhiam, com a extremidade de canudos assaz longos algo do vidro liquefeito em altíssimas temperaturas. Com seu sopro de artistas, eles formavam, na outra extremidade do canudo, figuras de admiráveis formas de vidro. Quando os professores visitantes se retiravam, Dom Estêvão me significava querer ficar mais um tempo, para ver, para admirar. Seus olhos encantados brilhavam. Ele, acostumado a meditar a sabedoria de Deus, via aqui – com sua abençoada inteligência – naqueles homens um reflexo da sabedoria criadora de Deus. Para ele, o mundo ao lado de tanta perversidade, era prenhe de luz e do Deus Criador.
O conselho e a fortaleza (chamados também de prudência e coragem) distinguiam sua vida nas adversidades que o Maligno arma para os servos de Deus. Quando certas pessoas de importante posição na Igreja tinham inveja do sucesso de seu alto e sábio ensino nas mais elevadas escolas do Rio de Janeiro, Dom Estêvão nunca se queixou, nunca se vingou. Outros se sentiriam humilhados. Dom Estêvão guardava tudo na oração e na confiança na sabedoria de Deus e soube decifrar e escolher, nas concretas necessidades da Igreja, novas tarefas, que lhe estavam oferecidas pela providência de Deus. É naquele tempo que sua inteligência soube dar grandeza, brilho e solidez à Faculdade de Filosofia que a Arquidiocese precisava fundar no Seminário São José.
Quem não queria falar da ciência deste monge. Perscrutar o divino e, no divino revelado para nós, detectar a nova e eterna dignidade da criatura redimida; é isto o que o levou a um trabalho gigantesco que poucos sabem medir. Nas escolas MATER ECCLESIAE, preparando anunciadores, catequistas e futuros sacerdotes, Dom Estêvão atingia cada semana mais de mil alunos, senhoras e homens, fazendo deles apóstolos e pregadores. – E o curso por correspondência alcançou dimensões internacionais. Seus escritos sem número e seus livros continuam em ampla divulgação; não são apenas recomendados, mas adaptados ao temo de hoje por pessoas de exímia competência e abençoada influência na Igreja e para o mundo.
Enfim, Dom Estêvão é o homem da piedade e do temor de Deus. Sua saúde estava enfraquecida. Nada, porém, nem os conselhos de amigos, conseguiram impedi-lo de promover suas ilustres e muito concorridas conferências públicas. Não se permitia descansar enquanto a fé estava ameaçada no mundo, enquanto, em tantas partes da Igreja, já não ardia o zelo pela santa verdade de Deus. A doutrina de Dom Estêvão iluminava as mentes com a palavra haurida dos tesouros da Tradição da Igreja, inflamava muitos corações com seu testemunho de fé vivida com ardor.
Monge em seu íntimo ser, recluso na sua cela, buscava só a face de Deus, em Quem tinha acreditado e a Quem tinha consagrado todo o seu ser. Seu silêncio fiel era uma encantada escuta da palavra de Deus. Da presença do monge enfermo continuava a ininterrupta irradiação para milhares de pessoas e para a Igreja toda, graças àquilo que Deus lhe tinha permitido trabalhar. –
Nesta memória de Dom Estêvão Bettencourt, convido a todos: façamos nossa a oração S. João Maria Vianney: “Meu Deus, eu vos amo, e meu único desejo é amar-vos até o último suspiro de minha vida. Meu Deus infinitamente amável, eu vos amo e preferiria morrer amando-vos a viver sem vos amar. Senhor, eu vos amo, e a única graça que vos peço é amar-vos eternamente... Meu Deus, se minha língua não pode dizer a cada instante que eu vos amo, quero que meu coração vo-lo repita tantas vezes quantas eu respiro” (CIC 2658 b).
(+ Karl Josef Romer)