Do Tratado sobre a fuga do mundo, de Santo Ambrósio, bispo
(Cap.6,36; 7,44: 8,45;9,52:CSEL32,192.198-199.204)
(Séc.IV)
Podes fugir com o espírito, embora permaneças com o corpo; podes ficar
aqui e estar ao mesmo tempo junto do Senhor, se teu coração estiver unido a ele, se teus
pensamentos se fixarem nele, se percorreres seus caminhos, guiado pela fé e não pelas
aparências, se te refugiares junto dele – que é nosso refúgio e nossa força, como disse Davi:
Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor, que eu não seja envergonhado para sempre
(Sl 70,1).
Já que Deus é o nosso refúgio, e Deus está nos céus e no mais alto dos céus, é preciso fugir
daqui para as alturas onde reina a paz, onde repousaremos de nossas fadigas, onde
celebraremos o banquete do grande sábado, como disse Moisés: O repouso sabático da
terra será para vós ocasião de festim (Lv 25,6). Descansar em Deus e contemplar as suas
delícias é, na verdade, um banquete, cheio de alegria e felicidade.
Fujamos, como os cervos, para as fontes das águas. Que a nossa alma sinta a mesma sede
de Davi. Qual é esta fonte? Escuta o que ele diz: Em vós está a fonte da vida (Sl 35,10).
Diga minha alma a esta fonte: Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3).
Porque a fonte é o próprio Deus.